Algumas Reflexões do Jornal Bernard Bouts Um artista deve ser generoso no seu trabalho. Pesquisar as "constantes" na arte das grandes épocas e utilizá-las com inteligência. Nem vícios, nem sistemas. Ritmos livres. A estática; evitar o tanto quanto possível as gesticulações. Suprimir o claro-escuro e as sombras projetadas porque são fugazes. Desenhar ao traço, mas um traço vivo, sem complacência nem cortes. A linha é a marca mais evidente no que há de mais íntimo na personalidade. A personalidade é a última coisa a se procurar; ela aparecerá por ela mesma, se ela existir. Aliás, toda obra, pintura ou escultura, supõe uma boa parte de artesanato. Evitar as expressões psicológicas para conservar apenas a expressão pela forma, que é o influxo da vida. Não empregar as perspectivas geométricas, porque elas retiram o sentido decorativo, primeira qualidade de qualquer pintura. Fugir do sensacionalismo: a obra original é sensacional por ela-mesma. É preciso se ter tanta técnica que é como se não se tivesse técnica. A obra não deve sentir o esforço, mas não deve também dar a impressão de ter sido abandonada no meio do caminho. É bem mais fácil "representar" atos materiais do que sugerir coisas espirituais. Se por acaso se entra numa escola "hiper-realista", deve-se sair rápido. A abstração não é uma qualidade em si. A figuração também não. É o modo que conta. Pela palavra forma, eu não quero dizer a forma exterior dos objetos, que muda, aliás, com o ângulo de vista, com a iluminação, mas, eu me refiro à qualidade desta forma. A primeira é apenas o suporte ou mesmo o pretexto da segunda. Esta depende de uma infinidade de fatores dos quais o mais importante: a origem e o desenvolvimento da vida, se se pode dizer, e que traduz na obra de arte um movimento do espírito, digamos, da alma. É o movimento da alma que conta, a qualidade do movimento da alma, traduzido pelas formas e pelas cores, ou pelas palavras reunidas numa determinada ordem, depois de ter sido cuidadosamente escolhida. Na pintura, não há uma razão intelectual; existe apenas, e só deve existir a imagem, são razões pictóricas. Ter talento é, certamente ter imaginação criadora, mas, reconhecer e possuir todos os recursos da linguagem. Transposto de P. Valéry |
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