O artista


Durante três anos, Bouts frequentou e ministrou na França cursos de filosofia da arte.
Procurou desse modo encontrar seu próprio caminho, do qual não se afasta. Só o grande artista paga o alto preço dessa intransigente fidelidade a si mesmo, até porque só ele, pacientemente, harmoniosamente, é capaz de aliar os mais sólidos conhecimentos artesanais e técnicos à mais requintada linguagem pictórica. Compreende-se assim que, desde cedo - a partir de seu decisivo encontro com Henri Charlier - Bouts se tenha revelado dócil ao apelo dos essenciais e estritos valores da pintura e da escultura, embora também atento a seus elementos e aspectos decorativos que merecem sempre ser considerados, pois ao contrário do que alguns pensam, não diminuem os méritos de nenhum trabalho artístico, precisamente por serem oriundos da própria beleza e encantamento plásticos de toda autêntica obra de arte. Seria também importante observar que jamais seria um artísta engajado! Tanto em relação à política, como a esta ou àquela corrente da suposta vanguarda de seus tempos de mocidade ou da precária vanguarda atual, Bouts se manteve sempre um artista independente. É como homem - não como artista que teve posições políticas, filosóficas ou religiosas. Ninguém o arredava da trilha que escolheu, desdenhoso ao extremo não só de capelas artísticas, de apreciações e juízos críticos, como de exposições e salões oficiais. Foi inconformista por natureza. Não se interessava nunca pelo que o público pudesse pensar a respeito da arte, tanto a dos outros como a sua. Permaneceu até o final de sua vida fiel ao itinerário que escolheu na juventude.

Bernard Bouts sempre esteve em uma posição solitária em relação à pintura e às outras artes visuais.
Ele se insurgiu com ironia ou desprezo contra as modas e as escolas, contra todos os ismos e movimentos artísticos que se desenrolaram no velho mundo, principalmente ao longo deste século. Combateu a Escola de Paris e as mudanças incessantes, sucessivas, massacrantes - e para ele de todo injustificáveis da arte submetida à tirania do mercado na sociedade de consumo. É sempre instigante, nessa matéria, nadar ou, como na caso de Bouts, navegar contra maré. Em vez de buscar inspiração no cubismo, no surrealismo e em outras manifestações da arte conteporânea, para exercer seu admirável poder criador ele prefere voltar-se para a pintura rupestre, para as formas dos cântaros antigos, para as realizações dos artistas da velha China, do Egito, da Grécia arcaica, de Bizâncio, da Idade Média do século XIII e de outros tempos. Este é de fato um comportamento sui-generis. Tem o propósito de retornar às constantes dos períodos, para ele, decisivos da história da arte, levado pelas características de seu espírito e por estudos especializados. Bernard Bouts não via sentido em se preocupar com períodos ou fases distintas em sua obra , pois sempre trabalhou num mesmo sentido. Não era raro fazer simultaneamente três quadros de temáticas diferentes e em técnicas diversas.


< infância e juventude
> a relação com o mar
 









Denise Olibet, sua esposa, em 1937.
(1913 - 2003)




Bernard em 1950.